A recente crise econômica sofrida por boa parte da
economia global, e percebida com maior nitidez em países como Estados Unidos,
Grécia e Espanha, além de assustar analistas, economistas e investidores,
causou certa incompreensão pela forma menos brusca com a qual atingiu a
economia brasileira. O efeito tardio ou de menor escala foi creditado em grande
medida a menor suscetibilidade da economia do país. Mas, afinal, o Brasil,
entre os países emergentes, conta com um bom grau de segurança aos solavancos
do mercado econômico mundial?
Antes
de entrarmos na questão é vital definirmos o que são e quais são os países
emergentes utilizados no comparativo. A despeito de não existir um consenso
acerca de uma definição exata, consideram-se “emergentes” países cuja economia
partiu de certo grau de subdesenvolvimento ou estagnação para um
desenvolvimento pleno, mantendo ainda algumas características de países
subdesenvolvidos que os diferencia de nações com maturidade econômico-social. Dentro
desse grupo incluem-se componentes diversos, que vão desde Rússia, China e
Índia até Costa Rica, África do Sul e Jordânia.
Levando
em conta essa caracterização e a extensa gama de países que compõe essa lista,
é possível perceber uma das principais justificativas para a menor vulnerabilidade
do Brasil dentro desse grupo de nações: ainda que as estruturas, marcos
regulatórios e organizações brasileiras não contem com a mesma solidez dos
países desenvolvidos, são ao mesmo tempo superiores ao nível verificado em boa
parte dos demais componentes do grupo de nações emergentes. Ao mesmo tempo,
algumas das principais características negativas do país aos olhos
estrangeiros, como a corrupção endêmica e a complexidade tributária, são
fatores que podem também ser encontrados com frequência (muitas vezes em maior
grau) nos demais países emergentes.
Outros
pontos trazem fortes indícios dessa vantagem brasileira em relação aos países
emergentes. Como bem apontado pelo economista norte-americano Paul Krugman em
recente seminário promovido na cidade de São Paulo, “O Brasil não é vulnerável
há muito tempo. A dívida externa do país, cerca de US$ 300 bilhões, não é mais
um fator importante no caso do Brasil, pois o PIB brasileiro é bem maior, pouco
acima de US$ 2 trilhões, e o país possui reservas próximas de US$ 370 bilhões”.
O Nobel de Economia em 2008 ainda levantou a questão da dívida em moeda
estrangeira, já que a desvalorização não deve afetar de forma tão intensa o
setor privado e contrair a economia, a exemplo da crise que afetou a Argentina
no início do século.
Muitos
analistas também apontam o direcionamento de recursos para programas sociais de
distribuição de renda, como o Bolsa-Família, como um dos principais fatores que
retardaram os efeitos da crise no país. Com a elevação da renda de uma camada
da população pouco acostumada ao consumo, as classes C e D sofreram um
crescimento quantitativo que manteve o mercado consumidor aquecido e evitou a
propagação dos efeitos internacionais por determinado período. Uma vantagem que
poucas economias emergentes possuem. Enquanto a países pequenos como Chile e
Jordânia resta pouco a fazer para aumentar o consumo do seu mercado interno,
gigantes populacionais como China e Índia ainda veem a maior parte de seus
habitantes alijados de seu mercado consumidor graças ao abismo econômico que
separa suas classes sociais.
Nessa
leva ainda podem ser creditados a abundância de recursos naturais. Enquanto
grande parte dos países emergentes aposta em poucos (ou nenhum) recursos
principais, o Brasil conta com uma gama diversa e extensa, boa parte dela ainda
carente de exploração. A recente temática do pré-sal, ainda que carente de
maiores detalhamentos, é uma prova de como esse fator (recursos naturais) ainda
é uma vantagem no mercado internacional.
É
praticamente consenso, entretanto, que o Brasil não aproveitou como deveria o
bom momento da economia mundial na primeira década do século para reforçar
nossos mecanismos de defesa contra crises financeiras. Faltou planejamento
(financeiro e estratégico) e reestruturação que nos possibilitariam entrar de
forma ainda menos receosa no momento atual.
Contamos
com vantagens estratégicas e naturais em relação aos países emergentes e mesmo
em relação aos demais membros do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul),
mas desperdiçamos tempo e oportunidades de investir em setores vitais nos
últimos anos, entre eles destaca-se a educação e a infraestrutura de
transportes, duas áreas vitais na atração de investimentos, assim como a
reforma tributária, palco da agenda de campanha de praticamente todos os
candidatos aos cargos executivos e legislativos, mas pouco discutida ou
apreciada.
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